Imagem da Notícia: O falso simples ou o honesto complexo na era da pós-verdade

O falso simples ou o honesto complexo na era da pós-verdade

Escrito por Prof. Dr. Alexandre Costa

Na aula desta semana, sobre jornalismo e cultura digital, estimulei um amplo debate sobre o fenômeno das fake news e seu impacto nas eleições do último domingo. Vale dizer que a origem da comunicação não fixou lado, bandeira ou credo, a reflexão focou-se apenas no fenômeno observado nas redes sociais.

Repercutiu entre os alunos uma grande incerteza, de certa forma impulsionada pelos resultados do pleito eleitoral e, ao mesmo tempo, pela invisibilidade do mecanismo responsável pela expansão das fake news na mídia brasileira. A dúvida é simples: como funciona o fenômeno da divulgação de informações não verdadeiras ou tendenciosas e sua aceitação pelo grande público? É fake! sim, de certa forma sabemos ou suspeitamos, mas porque esses “boatos” funcionam tão bem quanto uma notícia baseada em fatos reais apurados.

O bom das fake news revela o conceito de pós-verdade, um neologismo empregado pela primeira vez no final do século passado, que ganhou reconhecimento global em 2016, quando foi eleita como a palavra do ano da língua inglesa para o dicionário Oxford. Pós-verdade seria o processo pelo qual as emoções e convicções pessoais passam a ter mais importância do que os fatos reais e objetivos, promovendo uma troca de valores de grande amplitude. O conceito é complexo em sua compreensão, dificultando a percepção do que seja verdade, pós-verdade ou mentira. Mais difícil ainda, na prática jornalística, é atribuir quem, como e quando classificar uma notícia impressa ou postada no Facebook possa ser caracterizado como um processo típico da era da pós-verdade.

De qualquer forma, o debate ampliou a percepção de alguns conceitos que estão surgindo nos processos de comunicação em ambientes virtuais multimeios. A forte e inegável presença das fake news (notícias falsas) e a eminente necessidade da checagem dos fatos (fact-checking),a idéia da pós-verdade e a instabilidade do establishment dos meios oficiais de comunicação (imprensa) ancorados na premissa da imparcialidade e realidade dos fatos, esses e tantos outros fenômenos midiáticos compõe o cenário da nova era da comunicação.

A temporada da pós-verdade nos remete à um mundo no qual a mentira é percebida, de certa forma, como regra, e não como exceção. É um simulacro, no pensamento baudrillardiano, onde todas as pessoas ocupam o papel de mentirosas, até mesmo quem fala a verdade (uma matéria jornalística por exemplo), restando-nos escolher a mentira mais apropriada ao que nos interessa ou nos traz alguma segurança e conforto emocional.  Na maioria das vezes, dentro desse fenômeno, o público escolhe pelo enganosamente simples do que pelo honestamente complexo. A retórica do comum sugere, neste acontecimento, o reflexo da verdade. Traços de uma era onde o texto proveniente de uma pesquisa científica, vale menos do que uma postagem viralizada nas redes sociais digitais.

Diante desta nova realidade alguns conceitos do processo de comunicação carecem de amplas reformas.O meio mudou, as estratégias se recriam a cada postagem e compartilhamento, os instrumentos de aferição estatística sucumbem diante da emergente convergência midiática, tornando um desafio sem precedentes para os profissionais do marketing, da informação e da comunicação. É isso! Devemos nos preocupar?

 

* Alexandre Costa é doutor em Comunicação e Semiótica, especialista em marketing eleitoral e professor universitário de jornalismo e cultura digital.

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